sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
Voltamos!
Verão, bicicletas, sol, vento no rosto. E finalmente uma câmera compacta, que deve tornar muito mais fácil trazer ideias, dicas e inspiração para quem quer colocar mais bike no dia a dia.
terça-feira, 6 de setembro de 2011
terça-feira, 5 de julho de 2011
domingo, 26 de junho de 2011
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Meu luto é da cor do asfalto manchado
Tem gente que diz que roupas não têm importância. Mas como muitos outros comportamentos humanos, roupas são mais um jeito de demonstrar sentimentos - o que nos humaniza.
Na comunidade judaica, quando há um luto, os espelhos são cobertos e os membros da família que estão enlutados rasgam um pedacinho visível da roupa, para demonstrar que naquele momento a vaidade foi encoberta pela dor.
As cores do luto mudam de acordo com a crença, mas não se fica indiferente. O corpo diz: algo mudou.
Perdemos hoje um de nossa comunidade: o empresário Antonio Betolucci foi atropelado na avenida Sumaré. Aquele asfalto, hoje coberto de sangue, invisivelmente nos unia; eu passo ali quase todo dia a caminho do trabalho e de felizes encontros com amigos. Hoje o negro e vermelho do asfalto são a cor da minha tristeza, da raiva e da indignação.
A cada dia ocorrem muitas mortes estúpidas e desnecessárias no trânsito de São Paulo. Todos que saem de casa com frequência, seja a pé, carro ou bike, são sobreviventes. A grande diferença é que uma parcela crescente quer deixar de ser parte do problema e se tornar solução, adotando uma postura mais tranquila, amistosa e repleta de respeito por todos os viventes que nos cruzam o caminho.
Lentamente mudam as políticas públicas para uma cidade melhor e que o direito universal de chegar em casa vivo ultrapasse o privilégio de alguns de trafegar em alta velocidade ou sem respeitar o mais frágil do espaço público compartilhado.
Hoje, estaremos reunidos no local do incidente, às 19h, para lamentar a perda e questionar a falta de respeito à vida que essa cidade impõe a seus cidadãos. Leve flores, velas, cartazes. Só não fique em silêncio. O silêncio é conivência e omissão com mortes, anônimas ou não, e que podem ser evitadas.
Na comunidade judaica, quando há um luto, os espelhos são cobertos e os membros da família que estão enlutados rasgam um pedacinho visível da roupa, para demonstrar que naquele momento a vaidade foi encoberta pela dor.
As cores do luto mudam de acordo com a crença, mas não se fica indiferente. O corpo diz: algo mudou.
Perdemos hoje um de nossa comunidade: o empresário Antonio Betolucci foi atropelado na avenida Sumaré. Aquele asfalto, hoje coberto de sangue, invisivelmente nos unia; eu passo ali quase todo dia a caminho do trabalho e de felizes encontros com amigos. Hoje o negro e vermelho do asfalto são a cor da minha tristeza, da raiva e da indignação.
A cada dia ocorrem muitas mortes estúpidas e desnecessárias no trânsito de São Paulo. Todos que saem de casa com frequência, seja a pé, carro ou bike, são sobreviventes. A grande diferença é que uma parcela crescente quer deixar de ser parte do problema e se tornar solução, adotando uma postura mais tranquila, amistosa e repleta de respeito por todos os viventes que nos cruzam o caminho.
Lentamente mudam as políticas públicas para uma cidade melhor e que o direito universal de chegar em casa vivo ultrapasse o privilégio de alguns de trafegar em alta velocidade ou sem respeitar o mais frágil do espaço público compartilhado.
Hoje, estaremos reunidos no local do incidente, às 19h, para lamentar a perda e questionar a falta de respeito à vida que essa cidade impõe a seus cidadãos. Leve flores, velas, cartazes. Só não fique em silêncio. O silêncio é conivência e omissão com mortes, anônimas ou não, e que podem ser evitadas.
terça-feira, 7 de junho de 2011
Fashion Rio on high wheels
Essa linda da foto é a Deborah Bresser, editora de moda do iG. Semana passada, ela foi para o Rio de Janeiro cobrir a semana de moda com uma dobrável na bagagem. Nesse dia da foto, 34 quilômetros pedalados, com direito a voltinha delícia na Lagoa. Olha a cara dela de quem não está gostando nem um pouco. :-P
Ouvi dizer que o próximo passo é vir pedalando para o iG. E sendo editora de moda, estou até com medo das sapatilhas bapho da Chanel que vão pintar por esses pedais. Vai ser cycle chic de gente grande.
Ah, a foto é do Caetano Barreira, da FotoArena, que também pedala todo dia, a transporte. Estamos em boa companhia fotográfica. ; )
Ouvi dizer que o próximo passo é vir pedalando para o iG. E sendo editora de moda, estou até com medo das sapatilhas bapho da Chanel que vão pintar por esses pedais. Vai ser cycle chic de gente grande.
Ah, a foto é do Caetano Barreira, da FotoArena, que também pedala todo dia, a transporte. Estamos em boa companhia fotográfica. ; )
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praia,
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quinta-feira, 2 de junho de 2011
Interações urbanas
De vez em quando eu acordo fofa e elogio pacas as pessoas. Mas é elogio geral, indiscriminado e sincero. Os olhos incríveis do caixa de banco, a mão bem-feita e linda da colega de trabalho, o texto bacana do blog de fulano, o jeitinho extracharming de usar cachecol de uma amiga. Sei lá, é gostoso elogiar pessoas, quando tem brecha. É o tipo de elogio que eu gosto de receber. Aliás, às vezes quebra o climão tenso do dia a dia, pelo inesperado. E percebo que parte do inesperado é esse elogio de graça, sem querer nada em troca (ainda que geralmente eu ganhe no mínimo um sorriso).
Por outro lado, eu morro de preguiça de um certo tipo de elogio. Bizarro e contraditório, né? É que a maioria cai meio esquisito, por serem genéricos e deslocados. "Nossa, você é muito linda." Aaaahhn, brigada. Meio que acaba a conversa aí, um pouco porque eu perco o interesse, um pouco porque não tem muito o que dizer, um pouco porque dependendo do tom e de quem elogia, já cria uma barreira defensiva de leve. Entendo que muitas vezes a pessoa não faz por mal, mas não me desce, porque esse elogio tem uma porção de implicações na relação homem-mulher. Quando for perfeitamente ok um homem elogiar a beleza de outro sem que isso tenha nenhuma conotação erótica ou de atração, vai ser mais natural que isso seja tópico de conversa.
Por outro lado, essa barreira é tão sacal quanto necessária. Outro dia eu estava subindo a Augusta e tive um problema no pedal. Desmontei e comecei a empurrar a bicicleta nos últimos quarteirões. De um estacionamento, um segurança disse "boa noite". Enterrei a cabeça no peito e fixei os olhos no celular, fingindo que não ouvi. Já respondi boa-noite e me dei muito mal, porque a pessoa entende o cumprimento como um "liberou geral" e responde alguma coisa altamente constrangedora, como se eu tivesse me colocado disponível para um avanço. Mas o segurança insistiu: "Moça, posso fazer uma pergunta?". Parei e olhei para ele, que sorriu.
- Você já apareceu numa matéria de bicicleta, né?
- Já sim - a essa altura, eu estava morrendo de vergonha, porque minha reserva se transformou numa tremenda grosseria com uma pessoa que estava falando muito honestamente comigo. Corei e sorri para disfarçar.
- Acho isso muito legal. Vejo você passando sempre aqui. É bom que incentiva mais gente a pedalar, né?
- Ah, é sim. Vocês que trabalham aqui - o pipoqueiro ouvia a conversa com a maior atenção - devem sofrer muito com o barulho e a poluição. Ia ser tão bom que parte desses carros fossem bikes...
- É verdade.
- Moço, desculpa não ter respondido o boa-noite. Você sabe, a gente nunca sabe direito com que intenção as pessoas abordam a gente...
- Imagina - pela cara dele, ele sacou que não foi por mal, e não parecia nada ofendido. Isso só me deixou com mais vergonha, porque jogou na minha cara o quanto a gente se condiciona a esperar o pior das pessoas por conta das experiências ruins (e péssimas) que fazem parte da existência.
Mais umas frases trocadas, me despedi e continuei subindo. No mesmo quarteirão, passei em frente ao Habib's da Augusta, onde de vez em quando rolam altas grosserias da parte dos entregadores quando me veem subir pedalando. Já respondi com um foda-se, cansada de aturar os comentários desagradáveis. É triste. Preferia pode sorrir, sem por isso ser tratada como uma vagabunda dando mole.
Muita gente diz que hoje em dia, o feminismo perdeu sua razão de ser. Que com as últimas conquistas da mulher, a igualdade de gênero já foi conquistada. Quando uma mulher sai na rua e é constrangida, fica claro que não. Quando uma resposta cordial, um sorriso ou até um jeito de vestir mais arrumado dão a entender que você está disponível e dando permissão para comentarem em voz alta sobre corpo e seu comportamento, a estrutura é opressora - porque nem homens nem mulheres tem por padrão agir nessa maneira com um homem sozinho na rua.
O moço do estacionamento não sabe, mas me devolveu um pouco de humanidade. Ele é exemplo tanto quanto o bando de entregadores do Habib's são motivo de vergonha para mim (e deveriam ser para os outros homens). Quando eu escolho sair de trás do insulfilm e ser livre ao pedalar minha bicicleta, eu quero estar aberta a convivência no espaço público e construir relações com as outras pessoas que moram na cidade.
"And, in the end, the love you take/ Is equal to the love you make."
Por outro lado, eu morro de preguiça de um certo tipo de elogio. Bizarro e contraditório, né? É que a maioria cai meio esquisito, por serem genéricos e deslocados. "Nossa, você é muito linda." Aaaahhn, brigada. Meio que acaba a conversa aí, um pouco porque eu perco o interesse, um pouco porque não tem muito o que dizer, um pouco porque dependendo do tom e de quem elogia, já cria uma barreira defensiva de leve. Entendo que muitas vezes a pessoa não faz por mal, mas não me desce, porque esse elogio tem uma porção de implicações na relação homem-mulher. Quando for perfeitamente ok um homem elogiar a beleza de outro sem que isso tenha nenhuma conotação erótica ou de atração, vai ser mais natural que isso seja tópico de conversa.
Por outro lado, essa barreira é tão sacal quanto necessária. Outro dia eu estava subindo a Augusta e tive um problema no pedal. Desmontei e comecei a empurrar a bicicleta nos últimos quarteirões. De um estacionamento, um segurança disse "boa noite". Enterrei a cabeça no peito e fixei os olhos no celular, fingindo que não ouvi. Já respondi boa-noite e me dei muito mal, porque a pessoa entende o cumprimento como um "liberou geral" e responde alguma coisa altamente constrangedora, como se eu tivesse me colocado disponível para um avanço. Mas o segurança insistiu: "Moça, posso fazer uma pergunta?". Parei e olhei para ele, que sorriu.
- Você já apareceu numa matéria de bicicleta, né?
- Já sim - a essa altura, eu estava morrendo de vergonha, porque minha reserva se transformou numa tremenda grosseria com uma pessoa que estava falando muito honestamente comigo. Corei e sorri para disfarçar.
- Acho isso muito legal. Vejo você passando sempre aqui. É bom que incentiva mais gente a pedalar, né?
- Ah, é sim. Vocês que trabalham aqui - o pipoqueiro ouvia a conversa com a maior atenção - devem sofrer muito com o barulho e a poluição. Ia ser tão bom que parte desses carros fossem bikes...
- É verdade.
- Moço, desculpa não ter respondido o boa-noite. Você sabe, a gente nunca sabe direito com que intenção as pessoas abordam a gente...
- Imagina - pela cara dele, ele sacou que não foi por mal, e não parecia nada ofendido. Isso só me deixou com mais vergonha, porque jogou na minha cara o quanto a gente se condiciona a esperar o pior das pessoas por conta das experiências ruins (e péssimas) que fazem parte da existência.
Mais umas frases trocadas, me despedi e continuei subindo. No mesmo quarteirão, passei em frente ao Habib's da Augusta, onde de vez em quando rolam altas grosserias da parte dos entregadores quando me veem subir pedalando. Já respondi com um foda-se, cansada de aturar os comentários desagradáveis. É triste. Preferia pode sorrir, sem por isso ser tratada como uma vagabunda dando mole.
Muita gente diz que hoje em dia, o feminismo perdeu sua razão de ser. Que com as últimas conquistas da mulher, a igualdade de gênero já foi conquistada. Quando uma mulher sai na rua e é constrangida, fica claro que não. Quando uma resposta cordial, um sorriso ou até um jeito de vestir mais arrumado dão a entender que você está disponível e dando permissão para comentarem em voz alta sobre corpo e seu comportamento, a estrutura é opressora - porque nem homens nem mulheres tem por padrão agir nessa maneira com um homem sozinho na rua.
O moço do estacionamento não sabe, mas me devolveu um pouco de humanidade. Ele é exemplo tanto quanto o bando de entregadores do Habib's são motivo de vergonha para mim (e deveriam ser para os outros homens). Quando eu escolho sair de trás do insulfilm e ser livre ao pedalar minha bicicleta, eu quero estar aberta a convivência no espaço público e construir relações com as outras pessoas que moram na cidade.
"And, in the end, the love you take/ Is equal to the love you make."
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